quinta-feira, dezembro 30, 2004

Pão com Manteiga

(não, não vou falar de tardes no sofá, nem de uma infância cada vez mais distante, nem vou falar das maravilhas de um pãozinho com manteiga, torrado ou não, nem essas coisas que eu costumo mais ou menos fazer - mais para o menos, que isto anda mal...)

O Pão com Manteiga já não é do meu tempo (é de um tempo em que eu ainda não sabia que eu era eu ). Também já não me lembro muito bem como o Pão com Manteiga passou da prateleira do escritório para a minha vida. Mas isso não interessa, porque provavelmente ia acabar outra vez na história do domingo e do sofá e dessas coisas que eu costumo mais ou menos fazer.
Mas para quem não sabe, o Pão com Manteiga era um programa da Rádio Comercial, dos anos 80 (julgo eu. que me desculpem os veteranos). Basicamente, uma genialidade de humor produzida por 6 inadaptados - Carlos Cruz, Mário Zambujal, Bernardo Brito e Cunha, José Duarte, Eduarda Ferreira e Orlando Nevez. Para terem uma ideia, uma espécie de Homem que Mordeu o Cão, mas 10 vezes melhor....vá...20, pronto. E, tal como este último, o programa de rádio Pão com Manteiga passou para livro, em 1987. E depois, para a minha vida.

É um livro que devia estar sempre na mesa-de-cabeceira de todo o português. Acreditem que seríamos todos muito mais felizes e diferentes. É um livro que devia ser dado no ensino secundário. Acreditem que seríamos todos mais felizes nas aulas e produtivos na faculdade.


Tudo isto para aqui poder citar um dos inúmeros textos do Pão com Manteiga.

Porque nesta altura é tempo de sonharmos com um ano melhor e, sobretudo, de nos prometermos coisas que sabemos que não vamos cumprir. E esta incapacidade de atingirmos os sonhos é uma grande chatice. Por isso, escolhi este texto. Para vocês verem que não são os únicos a terem uma grande chatice na vida.

" Sonhos
  • O sonho de Fernão de Magalhães era voltar para trás.
  • O sonho de Vasco da Gama era ser Fernandes.
  • O sonho de Eça de Queirós era haver só uma tragédia na Rua das Flores.
  • O sonho de Gioconda era ouvir o resto da anedota.
  • O sonho de Bocage era ouvir anedotas do Camões.
  • O sonho de D.José era tirar o cavalo da chuva.
  • O sonho de Luís XV era as mobílias.
  • O sonho de Colombo eram os ovos moles.
  • O sonho do Infante D. Henrique era uma Sagres -e o outro sonho, imperial.
  • O sonho de D. Sebastião era ter faróis de nevoeiro.
  • O sonho de Napoleão era encontrar a carteira.
  • O sonho do Marquês de Pombal era ver o Parque Eduardo VII. "

P.S. O "Pão com Manteiga 2 " surgirá em breve, sob outra designação. Mal podem esperar, não é? E valerá a pena!


quarta-feira, dezembro 29, 2004

a piadinha...

Qual é a inscrição da campa do Fernando Pessoa?


" Têm a certeza de que sou eu? "





sem tempo nem ideias (sem amigos...)

.....isto anda mau.... nunca pensei que eles fossem tão ciumentos....principalmente o Sartre...
Telefona-me ontem e diz "como é ritá? vamo-nos à la bohéme?"
"pá, sartre, não posso...eu já tinha dito à Simone...esta semana tá complicado..."
"mas a Simone é a Simone e eu sou Eu....e se está complicado a culpa é tua....e...."
"'tá bem, J.P, tens razão. adeus."
E desliguei.... mas desliguei muita chateada! E mais chateada fiquei quando olho para o lado e vejo o Pessoa a rir-se à gargalhada, entre o ciúme e o desdém.
"Oh Pessoa! Não sejas chato, pá! Vai chatear a Lídia! "
"Mas a Lídia não existe!! " - e ria-se mais.
Para ajudar à festa, mete-se o Brecht na conversa (detesto quando ele faz isto...):
"Sim, a culpa é tua, minha menina! E esse efeito de distanciamento que andas a espalhar ainda te vai sair caro!"
E o Vergílio Ferreira amuado...."sou-me inteiro à tua estupidez e falta de criatividade". Vergílio, amigo, não comeces tu também...vai mas é escrevendo mais uma cartinha, desta vez ao presente, que bem está a precisar...
"Tu precisas é de mar e praia!" Sophia, por favor.... "Pronto, não digo mais nada...cada um trata da sua luz..." Sim, é por aí, Sophia...


Eu sei, Brecht, eu sei...
Desculpa Sartre, desculpa...
Vai-te lixar, Pessoa, vai-te lixar!
No verão, Sophia, no Verão!
Sou, Vergílio, Sou...

Mas o Pirandello até é um gajo porreiro...tentem perceber! Estou a dar-lhe mais atenção, para o perceber melhor; para depois irmos todos a uma jantarada! Não acreditam?? Não vou conseguir? Estou morta?? Sem ideias?? Sem tempo?? Sem beleza??

Ó José, José! Dá-me aqui uma ajudinha, pá! Não saltes tu também do eléctrico!


" Também eu, também,
sonâmbulo de versos
gritei em vão
para arrancar as rosas
das pedras do mundo.

Agora é a tua vez
de facho e lume.

Grita, despedaça
com lâminas na boca
esta nossa mordaça
de silêncio imune. "
( J.G.F )

Estão a ver? Isto é que é um bom amigo.
....é, não é?....


quarta-feira, dezembro 22, 2004

sapateado ( parte III )

E depois,

Depois há este desassossego de coisas que não soubemos dizer.

E agora,

Agora vamos tecer palavras novas para fingirmos um não-querer-dizer-nada.

agora todos juntos!!




Vês passar o barco rumando p'ró o sul
Brincando na proa gostavas de estar
Voa lá no alto, por cima de ti
um grande falcão, és o rei és feliz
E quando tu vês o Mississipi
tu saltas pela ponte e voas com a mente
Nuvens de tormenta já estão por aqui,
Cobrem todo o céu, por cima de ti
Corre agora, corre e te esconderás
entre aquelas plantas ou te molharás

E sonharás que és um pirata
tu sobre uma fragata
e sempre à frente de um bom grupode raparigas e rapazes
Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
junto ao rio a passear, Tom Sawyer
mil amigos deixarás, aqui, além.
Descobrir o mundo, viver aventuras
Tu andas sempre descalço, Tom Sawyer
junto ao rio a passear, Tom Sawyer

(...)

Agora escolha

Bem, depois das Barbies, a vossa paciência para certos tipos de nostalgia já deve ser difícil de desencantar. Mas isto do Natal traz muitas recordações. Nem sempre as melhores, é certo, nem sempre as mais desejadas, também. Mas, sem dúvida, há algumas que, não estando directamente relacionadas com o Natal propriamente dito, aparecem por esta altura, no meio de rabanadas e longas horas de inércia no sofá.

E, de repente, tenho 6 anos outra vez e são 4.30 de uma tarde de sol. Corro até ao sofá. E lá está ela, à minha espera com a sua longa cabeleira loira e frisada. Não, não é uma Barbie (agora que falo nisto...até podia ser...), é a Vera Roquete. Uns brincos tipo berloque de cortinado, baton vermelho, um sorriso estampado. "Agora escolha" em letras azuis, como aquelas dos bares de Las Vegas, imitando caligrafia, em néon. Há duas grandes séries à escolha do telespectador. Os números de telefone aparecem em letras brancas no canto superior direito. "Bloco A. Bloco B". E diz a Vera "no bloco A temos O Barco do Amor, no bloco B, temos o Esquadrão Classe A. Podem começar a ligar e votar na série que querem ver!" (e vêm estes gajos agora falar-me de televisão interactiva...Bah!).
No momento a seguir, o sorriso estende-se para os mais novos e anuncia o Tom Sawyer (depois veio o Dartagnan e o Bocas). E o mundo é lindo!

E vem o Huck (com a voz da Irene Cruz), a subir a árvore rumo à sua cabana. Vai buscar uma cana de pesca com o Tom, porque choveu torrencialmente durante as últimas semanas e as águas arrastaram outras cabanas e tesouros de piratas. E em vez de tesouros encontram um morto, que pensam ser o pai do Huck. Correm ao Sherif. Faz-se o funeral. No dia a seguir, no porto, esperam o barco e aparece o pai do Huck, que afinal não estava morto! Oh! E vem também uma companhia de teatro! E a pequena estrela da companhia, a Risetta, que fará as delícias do Huck e do Sid (irmão do Tom). E tão depressa vieram como partiram! E o pobre Huck, coração despedaçado, sugere uma verdadeira aventura de piratas. Partem então para uma ilha deserta, onde são verdadeiros guerreiros da terra e do rio. E a terra toda à procura deles. A tia Polly, a prima Maria, o Sid, o pai do Ben ( da mercearia), a ruivinha Becky, o pai do Joe....Aparecem os pequenos durante o seu próprio funeral, sob os olhares de terror e ira dos adultos. Depois de muitos açoites e um grande castigo, lá vão à escola outra vez, onde os espera o terrível Professor Robinson, que afinal usa peruca e acabará dentro de um buraco no chão da floresta. E muito mais, muito mais: o Joe,o índio. ,o bêbedo, o assassinato do médico novo, no cemitério, a casa assombrada, o rancho da tia Sally e o cavalo branco indomável, a papeira...

E depois o D'Artagnan (com a voz do Miguel Guilherme) e o Aramis, que afinal era uma mulher, o máscara-de-ferro, a bela e perigosa Milaydi, com o seu sinal ao pé do olho esquerdo, o seu cabelo azul esverdeado e o seu dom de falar com os animais (especialmente os pássaros), a Constance, o andrógeno Jean, a rainha Ana, o pai da Constance-o alfaiate- a Martha. E o baile e o colar de diamantes roubado. E as mamas do Aramis. Uma corrida contra o tempo entre Londres e Paris, um duelo em alto mar. O naufrágio. Uma mulher a bordo. A casa do Bosque de Bolonha. O Pepe macaquinho. A amnésia da Constance. E as mamas do Aramis. " Ele vai viver a lutar, para fazer melhor o amanhã. Vai querer na vida um lugar. É o D'Artagnan!!". E aquela cena em que a piedade do D'Artagnan comove a fria Milaydi! E corta-lhe o cabelo! E as mamas do Aramis. (e depois o Dartacão)

E depois o Bocas, no seu macacão cor de laranja, a esvaziar o mar, com o inseparável Teddy!


E depois o Nilse, que migrava com os patos.

E depois tenho 19 anos e estou há dez minutos a tentar perceber que graça e intriga tem o Nobita...

Agora já nem escolha há...

terça-feira, dezembro 21, 2004

A Dona Lúcia

A D. Lúcia mora no 3º esquerdo. A D. Lúcia domina a técnica do "ouvir sem ser ouvida" e do "ver sem ser vista", na perfeição. Infelizmente ainda está um bocado atrasada no que respeita à técnica do "falar sem ser ouvida".
A D. Lúcia tem um olho maior que outro e o cabelo apresentável uma vez por mês.
De manhã, a D. Lúcia liga a telefonia e ouve a Renascença. Depois abre a janela e entra no horário de trabalho. A D. Lúcia vigia o bairro mas não se deixa vigiar por ninguém. Às vezes, quando não tenho nada que fazer, faço um jogo com ela: abro a janela muito rápido. ela esconde-se. fecho a janela. ela aparece. abro a janela muito rápido. ela esconde-se. Às vezes ficamos assim uns bons dez minutos.
A D. Lúcia é casada com o Sr. Abrantes. A D. Lúcia tem um robe azul e viveu no Brasil. De vez em quando, quando eu chego a casa, eles estão à minha espera no patamar para eu lhes abir uma garrafa de vinho com o saca-rolhas, porque "a força já não é a mesma, menina". A D. Lúcia não gosta muito que o Sr. Abrantes beba vinho, especialmente ao almoço, confessou-me ela um dia.
A D.Lúcia e o Sr. Abrantes vão à ginástica para se poderem queixar durante o resto da semana das pernas e das costas.
Quando eu durmo até ao meio-dia, a D. Lúcia toca à campainha e pergunta se eu estou doente. Gosta muito de tocar à campainha, a D. Lúcia. Principalmente para perguntar se há lixo para levar ao caixote da rua e o que foi o jantar.
A D. Lúcia chama-me qualquer coisa em "-inha" quando está bem disposta e tem o olho mais fechado um bocadinho mais aberto. E pára na escada ou na rua (quando me vê), à espera do meu beijinhho. Eu só dou beijinho quando estou mesmo muito bem disposta ou com um olho mais fechado do que o outro. A D. Lúcia fica sem me falar e sem perguntar se há lixo durante dois dias inteiros, se eu não dou beijinho ou não pergunto pela perna/costas.
A D. Lúcia toma um comprimido azul muito bom para dormir, um amarelo muito bom para a mão esquerda, um vermelho muito bom para o umbigo e um verde muito bom não sabe bem para quê.
A D. Lúcia mete um bocado de medo, especialmente de manhã. Mas com muita paciência, chega a ser uma criatura afável.

A Dona Lúcia é uma espécie em vias de extinção da sociedade lisboeta. E daqui a uns anos até vai fazer falta.

sapateado (parte II)





E se amanhã o tempo nos nascesse ao contrário,
E fossemos sozinhos apenas nos intervalos de sermos juntos?

segunda-feira, dezembro 20, 2004

óculos

O teu nome era uma insistência
Amarrotada no bolso.
Os óculos não apareciam...
As rimas gastas não podiam
Fazer parte desse poema.
Era o mais bonito. O mais verdadeiro.
Não se podia escrever.
Os óculos perdidos...
Fiz concha com o peito
Aconcheguei esse sentir.
Que era demasiado frágil
Para permanecer.
Procurámos os óculos pela cidade...
E lá estava o teu nome,
Aguardando engelhadamente pelo meu.
E lá ficaram assim –à espera um do outro. No bolso.
E os óculos sem aparecer...

Barbies

Hora de almoço. Telejornal. "Barbies e Nenucos sobrevivem ao longo dos anos e continuam nº 1 nos tops de compras. Psicólogos explicam porquê." A segunda parte não interessa, que me desculpem todos os psicólogos, estudantes de psicologia ou amadores. Mas neste caso é totalmente irrelevante a explicação e quem manda no meu blog sou eu.

As Barbies! Um domingo! Barbies e um domingo! Ah! quando eu era a pequena, a comer os chocolates, sem me preocupar com o horário de funcionamento da tabacaria! As Barbies, meus amigos, juntamente com os lápis de cor, canetas de feltro ( trabalhos banuais, beu!) e os teatros no quarto, foram o centro do meu universo infantil.

A oposição do meu pai resistiu até ao meu 5º aniversário. Sim, eu sei, há que estimular as criancinhas para a criatividade, para a leitura, para a escrita, para as palavras inteligentes (carneiro em vez de mé-mé, piaget em vez de chinelo, etc), mas uma Barbie....é sempre uma Barbie! E pronto, lá estava eu, no Feira Nova, com o meu paizinho, com um ar desesperado, a olhar para todos os lados, aterrado, no meio de tanta flor e missanga cor-de-rosa, repetindo sem cessar "eu sou um mau pai, eu sou um mau pai, a miúda, que até tem potencial, afinal vai ser estúpida...". E foi das decisões mais difíceis da minha vidinha - qual delas? (todas loiras, todas com pentes e malas e saltos altos....). Após longas horas "é esta". Foi aquela! Loira (!), longos cabelos (mais ou menos pela barriga das esbeltas pernas), vestido curto verde alface, rosa e azul turquesa, pente e sapatos a condizer. Franja.

Depois não parou mais (as Barbies são uma droga infantil). E veio a do baile, a ciclista, a do campismo (que era ruiva, uma prima, enfim.), a marés-vivas (com o seu golfinho e a bóia vermelha. ainda me lembro do anúncio "barbie marés vivas, olha pró mar! vê um golfinho em perigo, vai ter de o salvaaaaaaaaaaaar!"), a skipper (a irmã adolescente), a shelly ( a irmãzinha abandonada- que raio de mãe a Barbie terá...), a hippy e a diamante ( e outras, daquelas mais baratas, intituladas genericamente "style" ou "slut").

Depois o companheiro inseparável de sexualidade duvidosa. O sorridente Ken. Com o seu ar lavadinho e os seus abdominais e gémeos fascinantes. Tive o do baile (que acabou por perder a cabeça e a tinta do cabelo), um com cabelo grande ( que também vinha com um irmãozinho pequenino, o Tommy. Estes pais....não percebo...) e o so ski, que era o mais giro e o mais magro.

E os acessórios! (desculpem lá esta extensão, mas isto é fundamental!) A casa (pronto, a casa não era original, era da La redoute. mas tinha sótão e tudo!), que vinha com sofás, mesa, cadeiras, toucador, espelho. O frigorífico (este era original! com luz e tudo!) com os ovinhos e os pacotes de leite...ai ai....e o carro da neve, com porta-bagagens grande, com bancos secretos e cintos de segurança! E o supermercado comprado em Ayamonte - um balcão e uma estante com produtos variados. E o cavalo castanho! E, por fim, a casa-mala. Um T-0, por assim dizer, cheia de gavetinhas secretas, um aquario, uma lareira, um candeeiro com luz a sério (como o frigorífico) e com a vantagem fenomenal de não ser preciso arrumar nada, era só fechar!

E tudo isto suscitava longas horas de criatividade (por esta altura o meu pai ficou ligeiramente mais descansado....digo eu...). Fiz sofás com cascas de côco, livros de escola (com perguntas e tudo), vestidos manhosos com meias e trapos (eram uma freaks, as minhas Barbies....), quadros,penteados,histórias, biografias, dramas, êxtases, invejas, traições, carreiras....um universo de telenovelas daquelas que a tvi adoraria alguma vez vir a criar.

Depois acabou. Mais ou menos como começou. A última já era muito moderna - um macacão verde, um gorro verde também, umas al-star liláses....brincos e um anel ( para quem não sabe, o aparecimento dos anéis nas Barbies foi uma emoção! Um buraquinho da mão e lá estava ele - pequeno, brilhante, tão real...). E lá estão elas na cave, ao pé dos nenucos. E os psicólogos poderiam explicar porquê. Mas eu não quero.

E agora, quando vou aos hipermercados, lá faço um esforço para ir buscar o leite sozinha e fazer um desviozinho pela secção fuschia. Agora são todas....digamos...século XXI....roupas fátima lopes, acessórios da parfois, perfumes da cacharel, computadores portáteis, leitores de mp3, pílulas (provavelmente para oferecer à mãe...). Mas tenho de ver. Tenho mesmo de ver. Porque a Barbie, pirosa ou não, também evolui.... E basta olhar para as meninas e meninos de hoje para imaginarmos o que eles diriam se fossem à minha cave e vissem as minhas Barbies (avós das deles) e os seus vestidos e sofás de casca de côco...

Bem...eu sei que a Barbie, no fundo é horrível. Não há nada mais fútil e mais irreal. Porque a Barbie é, no fundo uma espécie de Porno Star....tudo em cor de rosa, tudo um grande filme, tudo profissões e títulos humanitários só para o Ken ver... ela é veterinária, ela é cozinheira, ela é nadadora, ela é estilista, ela é astronauta, ela é professora, tutora.... Mas a Barbie é fundamente, continuo a defender!

E só para terminar, e para me convencer do ridículo disto tudo, andei a passear pelo site da Barbie (....mas eu estou bem!!!...). E encontrei a Barbie Portugal. Meus amigos, isto é verídico!! É a barbie de uma princesa/raínha, que isto da contextualização histórico-cultural sempre lixou um bocado a Matel, com a seguinte descrição:

"Onde vivi: num castelo, no topo de um penhasco, à beira mar (plantada, supomos nós).

(...)

Comida preferida (eu juro que não estou a gozar!): pescada grelhada, caldo verde- uma sopa de couve e chouriço. (então e o vinho verde??)

Vivi na época dos grandes descobrimentos, cientistas e pensadores...."

E páro por aqui... que só o facto de imaginar a barbie a comer caldo verde e a chupar o chouriço no fundo do prato, enaqunto esperava os navegadores e os grandes pensadores, já é demais para a minha cabeça....eu quero o meu imaginário infantil intacto nas suas plumas e folhos cor-de-rosa. E quem manda nas minhas brincadeiras sou eu, tal como nas minhas bonecas e no meu blog!

E, sim, prometo nunca mais falar nisto.

sexta-feira, dezembro 17, 2004

vivemos todos, eu sei que no fundo vivemos todos!

[mas esta condição balónica do ser(-se) humano não deixa de surpreender. digo balónica, sim: um inchar e desinchar constantes. ora grandeza no limiar da explosão, ora moleza descartável de trazer pelos bolsos. um fio cortado pela certeza do nada. uma corda segura pela hipótese do tudo.]



mas vivemos todos, vivemos! E procure-se sempre rechear de hélio a nossa condição de balões! (sempre torna a pena mais leve...)
(em caso de dúvida, persistência dos sim-tomas ou aparecimento de uma agulhinha filha da mãe, a corda-tudo pode sempre ser usada para um fim gloriosamente dependurado)

quinta-feira, dezembro 16, 2004

Um breve momento de sapateado

desde que seja breve, sim, eu sei.

enquanto as mãos imitam na mesa um início de ritmo. um concerto.um desvio subtil. o perfil. o mundo inteiro.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Ah! Cesário, Cesário...

Eu já sou crescidinha para aceitar, sem tristeza, que há coisas em que não se pode acreditar muito. Não se pode esperar, por exemplo, que aconteça algo de verdadeiramente fantástico numa quarta-feira invernosa, na sociedade recreativa dos reformados do KGB. E, por isso, lá estava eu, no meio de uma conversa desinteressante (q.b), a beber o meu café nick-ola, a fumar o meu cigarro, calmamente, entre os apontamentos para um teste que ia ainda ser e "um bocadinho de angústia no dedo mindinho".
Quando eis que um livro perdido de um dono ainda mais perdido, me vem parar às mãos. E eu já sou crescidinha, também, para saber que livros folhear (ou não) numa quarta-feira invernosa. Mas antes de eu decidir, o livro folheou-se e abriu-se-me nisto:

" Cadências Tristes

Ó bom João de Deus, ó lírico imortal,
Eu gosto de te ouvir falar timidamente,
Num beijo, num olhar, num plácido ideal;
Eu gosto de te ver contemplativo e crente,
Ó pensador suave, ó lírico imortal!

E fico descansada, à noute, quando cismo
Que tentam proscrever a sensibilidade,
E querem denegrir o cândido lirismo;
Porque o teu rosto exprime uma serenidade,
Que vem tranquilizar-me, à noute, quando cismo!

Poeta da mulher! Atende, escuta, pensa,
Já que és o nosso irmão, já que és nosso mestre,
Que ela, ou doente sempre na convalescença,
É como a flor de estufa em solidão silvestre,
Ao tempo abandonada! Atende, escuta, pensa. "


Cesário Verde


Eu já sou crescidinha e sei que não acredito em coincidências (mas lá que as há....lá isso há!)
Poema ao sinal de [desinteresse] interrompido




Tu. Tu. Tu. Tu.
Tu. Tu. Tu.
Tu.

terça-feira, dezembro 14, 2004

E não é que fiz mesmo?!

É verdade....ele há coisas!

E fico-me por aqui, que isto hoje foi já um grande passo....