quinta-feira, janeiro 27, 2005

Um dia frio (por fora e por dentro)

Não quero saturar, também, mais esta conversa. Mas, no cansaço do dia, houve algo maior. Uma ausência desconfortável entre os cafés, os cigarros, os apontamentos, a música colada aos ouvidos durante tantas horas. No cansaço do dia, houve qualquer coisa que cansou mais, que doeu mais fundo.
Talvez falta de fé (sim, dessa).
Mas não faz mal. Há sempre a imagem simbólica que, não sendo verdade, permite a deliciosa vã glória. Não será antes cobardia?!...Não interessa....

"Baby i've been here before
I've seen this room and i've walked this floor
I used to live alone before i knew you
I've seen your flag on the marble arch
But love is not a victory march
It's a cold and it's a broken hallelujah

Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah ....

Well there was a time when you let me know
What's really going on below
But now you never show that to me do you
But remember when i moved in you
And the holy dove was moving too
And every breath we drew was hallelujah

Well, maybe there's a god above
But all i've ever learned from love
Was how to shoot somebody who outdrew you
It's not a cry that you hear at night
It's not somebody who's seen the light
It's a cold and it's a broken hallelujah

Hallelujah, hallelujah, hallelujah, hallelujah .... "

(J. Buckley)

terça-feira, janeiro 25, 2005

Aviso ao tediocrata

Tediocratas,

Aquela coisa do frio é mesmo verdade!
Ele está mesmo aí, a infiltrar-se discretamente entre nós. Por isso, se nos próximos dias ouvirem a vizinhança aos berros nas janelas "Ai que morremos todos! Ai que ele vem aí!", já sabem: é um iceberg fragmentado a deslizar pelas ruas. Nesse caso, isolem-se em casa e pendurem espanta-espíritos com Sóis ( irritantemente sorridentes) nas janelas. Se sairem à rua, para além de (obviamente) seguirem por ruas sem iceberg, optem por calçado de extrema aderência ao solo e evitem as calçadas. O metro também é de evitar, quando o gelo começar a derreter.
Em relação ao vestuário, cada um é que sabe... que eu nestas coisas, está bem, aviso, mas não gosto de abusar.
Relembro que devem fazer, no mínimo de dez em dez minutos, pequenos exercícios para encorajar a circulação sanguínea - tais como falar com o colega em linguagem gestual durante um minuto, ou alternar a saudação Escuta com o símbolo da paz/vitória/25 de Abril/ Manif. Académica, durante 2 minutos. Ou ainda uma cerveja (aquecida).
Se estiverem com o cio ou simplesmente fascinados com a lua maravilhosamente cheia, façam um esforço e evitem as caminhadazitas românticas e as serenatas - além disso, ficam com o nariz buédavermelho e isso é muito feio. Façam chocolate quente, acendam a lareira....ou vejam televisão embrulhados numa manta....ou leiam um livro do Foucault.
Sejam responsáveis e bebam com moderação.

E pronto. Contra ventos e icebergs, cá estaremos nós... roxitos, pedrificaditos, lixaditos....

domingo, janeiro 23, 2005

Trovadoresca....muito trovadoresca....

Sedia-m'eu num domingo sem inspiraçom
e cercarom-mi os livros que grandes som.
Eu atendend'o meu amigu'... e verrá?

Estando no sofá ant'o desesperar,
cercarom-mi chocolates para eu mastigar.
Eu atendend'o meu amigu'... e verrá?

E cercarom-mi as dúvidas que grandes som,
nom ei i barqueiro nem sei esperar
Eu atendend'o meu amigu'... e verrá?

E cercarom-mi as dúvidas do mal estar,
nom ei i barqueiro nem sei estudar.
Eu atendend'o meu amigu'... e verrá?

Nom ei i barqueiro nem remador,
e morrerei ei fremosa no desespero maior
Eu atendend'o meu amigu'... e verrá?

Nom ei i barqueiro nem sei esperar
e morrerei fremosa no alto mar.
Eu atendend'o meu amigu'... e verrá?

Adaptação da cantiga "sedia-m'eu na ermida de sam simiom", de Mendinho.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

momento de sapateado (descompassado)


"(...)
Não basta depor nos lábios inventados a frescura de um beijo doce e leve
e dizer: Fecharam-nos as portas. Mas espera.

(...)

Não basta encher de sonhos a mala de viagem, colocar-lhe as etiquetas
e afirmar: Procuro o esquecimento.

Não basta escutar, no silêncio da noite, a estranha voz distante,
entre os ruídos de música e interferências aladas.

Não basta ser feliz.

Não basta a primavera.

Não basta a solidão."

(Daniel Filipe)


Esta semana fui:
  • Imperatiz Romana (com perfil na moeda incluído);
  • Amiga de uma czarina e de uma huna-árabe;
  • Detective Poirot em versão feminina ( gin-tónico incluído );
  • crente;
  • Braço-direito (centro) de uma futura secretária de estado;
  • Amiga do "Gui";
  • crente;
  • Insuportável ( "tudo isto é triste tudo isto é fado" incluído);
  • Bacante;
  • Amazona;
  • Infiltrada;
  • crente;

Esta semana falei:

  • com quem queria;
  • com quem não queria;
  • com quem não queria mesmo;
  • assim-assim;
  • alto, porque não se ouvia;

Esta semana aprendi:

  • Que não devemos ligar às teorias pragmáticas;
  • Que a sublimação é a melhor amiga da mulher;
  • Que no fundo, no fundo, até vale a pena;
  • Que no rir é que continua a estar o ganho;

Esta semana vi:

  • Delírio colectivo por arrastamento;
  • Desespero;
  • Turistas loiros;
  • Os desenhos;

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Pearl



"...Freedom is just another word for nothing left to lose,
Nothing don’t mean nothing honey if it ain’t free.
And feeling good was easy, Lord, when he sang the blues,
You know feeling good was good enough for me..."
Parabéns.

terça-feira, janeiro 18, 2005

"Ninguém duas vezes"

"Vamos acertar as nossas respirações..."

E outra Lisboa, tão distante, tão presente. Tão actual.
Lisboa invernosa da frustração, das noites em branco, das madrugadas tristes- o cinzeiro a transbordar beatas angustiadas de insónia.
Lisboa desenha-se na timidez da luz, da água, das palavras. Sobretudo, das palavras.
Lisboa de não sabermos dizer quando é preciso; humilhação de silêncio baço a corroer o que ainda resta de vontade. Lisboa de não sabermos a coragem de amar. Outra vez.

Os limpa pára-brisas a lavarem-nos as lágrimas entre uma canção e um regresso triste ao sítio de sempre.
O fascínio a demorar-se-nos nos olhos e nos gestos contidos.
A arte volta. Nós voltamos.

A amor. Sobretudo, a poesia dos homens.

A humidade



É uma humidade, disse ele.
É um des-sentido de tanta coisa para palavrear e sentir no irreal das flores e estendais escancarados nas janelas, discordou ela. E ficaram-se por aí, que estas coisas das poesias e das cidades não se discute, não se conhece, não se esboça fora do seu silêncio de devaneio absurdo. E, assassinando o único propósito de chuva -porque há pressentimentos que devem ser saboreados antes de serem tomados - vou sair.
Mas eu acho que ela o percebeu bem. Acho que ela pensa qualquer coisa na poesia que será também comum. É humidade.
Há sempre um não-sei-quê de desconforto frio, qualquer coisa de música, de voz, de pedras e carris onde "só o rio é real" (como citou ele, a dada altura).

Porque há sempre, afinal, este outro lugar. Esta outra força de ver as casas, o mar, as ruas.


"Vale a pena ver o mundo aqui do alto,
Vale a pena dar o salto.
Aqui vê-se tudo às mil maravilhas,
Da terra, montanhas e do mar, as ilhas.
Queremos ir à lua mas voltar,
Convém dar a curva sem se derrapar,
Na avenida do luar.
(...)"
-S.Godinho-





terça-feira, janeiro 11, 2005

"...avec le temps...avec le temps, va, tout s'en va
on oublie les passions et l'on oublie les voix
qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
ne rentre pas trop tard, surtout ne prends pas froid ..."
(L. Ferré)

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Vale a pena?

Ora bem....como é que eu digo isto.... (assim sem descer a um nível muito baixo e lixar definitivamente as eventuais visitas a este blog por parte do cidadãozito cansadito, que vem do seu trabalhito, chateadito, deprimidito e só quer ler um blogzito catita, esboçar um sorrisito...)

N' A Visão desta semana ( na página "Os outros"), com fotografia e tudo (para realizar e contextualizar facialmente a evidência da coisa), vem a resposta de uma brilhante jovem portuguesa à qual, antes da partida turística para a Tailândia, "foi-lhe perguntado se estava triste com a situação criada pela catástrofe natural". A Dulce Ferreira, a brilhante jovem, responde : "sim, claro, agora já não vou ter todas as condições de férias que iria ter se por acaso não tivesse acontecido nada disto. Por outro lado, estou contente, porque vejo as coisas mais ao natural, como elas são."

Eu digo, então: Mas que merda é esta, pá?!?! Ó Dulce, vai fazer extensões no cabelo e pintar as unhas com verniz cor-de-rosa! Porque, sim Dulce, eu sou da tua idade, eu estudo como tu, eu voto como tu, eu tenho uma camisola igual à tua. Eu sou igual a ti, Dulce. Aos olhos da lei, aos olhos dos mais velhos, dos mais novos e dos da nossa tribo, nós somos iguais. Somos postas na mesma prateleira, com o mesmo rótulo "a juventude portuguesa". Aos olhos do mundo, somos portuguesas. A diferença, Dulce, é que tu és estúpida. Ou então, muito malcriada. E eu não quero ser do mesmo grupo que tu. Eu não quero ser tua colega de trabalho, daqui a uns anos, eu não quero ser tua vizinha e, principalmente, eu tenho pena de tu seres minha compatriota (mas parece que tem de ser, né?). Desculpa, Dulce, mas é por causa de gente como tu ( e de quem te ensinou a ser assim) que não conseguimos ser levados a sério. Nem enquanto geração, nem enquanto força, nem enquanto pessoas, nem enquanto seres humanos. O problema, Dulce, é que tu não percebes que somos todos responsáveis uns pelos outros. Tu não me conheces. Mas és responsável também por mim. sabes? E eu, infelizmente, também sou responsável por ti. Individualmente, podemos fazer a diferença colectivamente. Tu, podias começar por olhar bem para ti para "ver as coisas mais ao natural". E ter vergonha. Muita vergonha.

Ah! E se me vires na rua, vem pedir-me desculpa!


quarta-feira, janeiro 05, 2005

Não devia ter feito a barba





vá-se lá saber porquê. vocês acreditam no que quiserem. eu, cá por mim, não gosto de lâminas. e há umas lâminas muito chatas, que sempre acabam por cortar o que a gente não quer que seja cortado. lâminas como o silêncio. e outras coisas... outras mesas, outros cigarros, outras cantigas....vá-se lá saber porquê. vocês acreditam no que quiserem. eu, cá por mim, preferia o brilho, a beleza. e a iminência estonteante do corte. está bem?