segunda-feira, fevereiro 28, 2005
domingo, fevereiro 27, 2005
Desabafos de um tediocrata
Cada vez mais acho que isto de se ter um blog cor-de-rosa proletáio-burguês com brasão no fim é como ter um peixinho vermelho num aquário redondo.
Primeiro umas pedritas de areão colorido no fundo, para dar uma certa graça. Depois a euforia de se ter um peixinho, de chegar a casa e lá estar ele, à nossa espera. O ritual do frasquinho de comida (aquelas placas fininhas com cor de ..... que se desfazem na água), a ternura com que olhamos o nosso Sansão (nome fictício do peixinho vermelho) a subir uns loucos 4 cm até à superfície da água, sempre que uns dedos se agitam do lado de fora - "Oh, o meu Sansão já me conhece...já vem pedir comida e tudo...", dizemos nós babados aos amigos. A companhia do ser calado e zen que desliza para lá....e para cá....para lá.....e para cá durante horas infinitas.
Mas pouco tempo depois, chegamos a casa e ele continua lá... e, de repente, somos uns seres estúpidos, reduzidos à humilhação de abrir e fechar a boca ao ritmo do peixe, em frente a um aquário redondo com pedras, cujos corantes já o Sansão absorveu. E percebemos que até podemos deitar a porcaria do frasco de comida inteirinho pa dentro de água, que o parvo do peixe há-de comer até rebentar e voltar, ainda assim, a vir à tona da água "pedir mais".
Eu fico assim, a abrir e a fechar a boca, ao ritmo do meu blog fuschia (nome fictício), a bater com os dedos no vidro toc toc toc e a tentar alimentá-lo com placas fininhas...
Mas gosto muito dele, faz muita companhia.
Primeiro umas pedritas de areão colorido no fundo, para dar uma certa graça. Depois a euforia de se ter um peixinho, de chegar a casa e lá estar ele, à nossa espera. O ritual do frasquinho de comida (aquelas placas fininhas com cor de ..... que se desfazem na água), a ternura com que olhamos o nosso Sansão (nome fictício do peixinho vermelho) a subir uns loucos 4 cm até à superfície da água, sempre que uns dedos se agitam do lado de fora - "Oh, o meu Sansão já me conhece...já vem pedir comida e tudo...", dizemos nós babados aos amigos. A companhia do ser calado e zen que desliza para lá....e para cá....para lá.....e para cá durante horas infinitas.
Mas pouco tempo depois, chegamos a casa e ele continua lá... e, de repente, somos uns seres estúpidos, reduzidos à humilhação de abrir e fechar a boca ao ritmo do peixe, em frente a um aquário redondo com pedras, cujos corantes já o Sansão absorveu. E percebemos que até podemos deitar a porcaria do frasco de comida inteirinho pa dentro de água, que o parvo do peixe há-de comer até rebentar e voltar, ainda assim, a vir à tona da água "pedir mais".
Eu fico assim, a abrir e a fechar a boca, ao ritmo do meu blog fuschia (nome fictício), a bater com os dedos no vidro toc toc toc e a tentar alimentá-lo com placas fininhas...
Mas gosto muito dele, faz muita companhia.
quinta-feira, fevereiro 24, 2005
sexta-feira, fevereiro 18, 2005
A vida é feita de pequenos nadas (neste caso, quatro...)
E no meio de tanta bodega, tanta bodega, tanta...bodega, lá aparecem os "nadas" que nos fazem felizes e, sobretudo, nos fazem muita companhia. Portanto, no fim de contas, acabam por ser os "tudo" desta bodega maior que é o "grande nada".... enfim... O que eu quero dizer é que ainda há gente verdadeiramente feliz nos seus devaneios. Não que seja feliz mesmo feliz como a gente empiricamente entende o termo, não é isso ( que isso só passa para o domínio colectivo quando o individual dá autorização expressa). É a tal coisa de se ser feliz na produção porque se acerta em cheio nas coisas cujo o cheio é difícil de antingir .... E como eu não consigo sair destas observações infelizes (lá está, in-feliz), vou direita ao assunto que me fez tão deliciosamente tediocratizar hoje, que era o que eu devia ter feito logo, sem introduções destas meias estranhas.
O nome é Gonçalo M. Tavares. Os livros, quatro : o Sr. Valéry, o Sr. Henri, o Sr. Juarroz e o Sr. Brecht.
E para não estragar mais nada com descrições dispensáveis, acrescento só: a bíblia do tediocrata passa (a seguir ao Pão com Manteiga) por estas quatro personagens, pelas suas teorias e, sobretudo, pela sua tediocracia sublime.
Deixo um "cheirinho" ( que isto antes de provar, é sempre bom cheirar):
"...é verdade que se um homem misturar absinto com a realidade fica com uma realidade melhor.
...mas também é certo que se um homem misturar absinto com a realidade fica com um absinto pior... nunca misturei o absinto com a realidade para não piorar a qualidade do absinto..."
in O Senhor Henri
"O senhor Juarroz pensou num Deus que, em vez de nunca aparecer, aparecesse, pelo contrário, todos os dias, a toda a hora, a tocar à campaínha.
Depois de muito meditar sobre esta hipótese, o senhor Juarroz decidiu desligar o quadro da electricidade."
in O senhor Juarroz, "A morte de Deus"
O nome é Gonçalo M. Tavares. Os livros, quatro : o Sr. Valéry, o Sr. Henri, o Sr. Juarroz e o Sr. Brecht.
E para não estragar mais nada com descrições dispensáveis, acrescento só: a bíblia do tediocrata passa (a seguir ao Pão com Manteiga) por estas quatro personagens, pelas suas teorias e, sobretudo, pela sua tediocracia sublime.
Deixo um "cheirinho" ( que isto antes de provar, é sempre bom cheirar):
"...é verdade que se um homem misturar absinto com a realidade fica com uma realidade melhor.
...mas também é certo que se um homem misturar absinto com a realidade fica com um absinto pior... nunca misturei o absinto com a realidade para não piorar a qualidade do absinto..."
in O Senhor Henri
"O senhor Juarroz pensou num Deus que, em vez de nunca aparecer, aparecesse, pelo contrário, todos os dias, a toda a hora, a tocar à campaínha.
Depois de muito meditar sobre esta hipótese, o senhor Juarroz decidiu desligar o quadro da electricidade."
in O senhor Juarroz, "A morte de Deus"
quinta-feira, fevereiro 17, 2005
"I'll be your mirror
Reflect what you are, in case you don't know
I'll be the wind, the rain and the sunset
The light on your door to show that you're home
When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you
I find it hard to believe you don't know
The beauty that you are
But if you don't let me be your eyes
A hand in your darkness, so you won't be afraid
When you think the night has seen your mind
That inside you're twisted and unkind
Let me stand to show that you are blind
Please put down your hands
'Cause I see you
I'll be your mirror
I'll be your mirror"
The Velvet Underground (I'll be your mirror)
segunda-feira, fevereiro 14, 2005
Porque não!
Há dez anos recebi um ramito de flores dentro de uma caixa de gelados "Gino Ginelli" em plena aula de Estudo do Meio. Isto não se faz a ninguém...
Nunca mais fui a mesma.
domingo, fevereiro 13, 2005
A explicação
"[...] Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se sentir que não vale a pena fazer nada. E, sendo assim, quanto mais há que fazer, mais tédio há que sentir [...]"
Bernardo Soares
sábado, fevereiro 12, 2005
Afinal é mesmo verdade!
E não é que aquelas coisas dos partidos e dos senhores a falar, muito zangados ou muito calmos ou muito irónicos ou muito sorridentes, é mesmo verdade? Não é que aquilo é mesmo a verdadeira política do estado democrático português (pelo menos, do estado a que isto chegou...)?
E eu que pensava "pá, estes gajos têm mesmo piada! Estamos com um humor lindo neste país.....quem escreverá estes textos?".... E eu que repetia "caramba, estas histórias viciam...enredos complexos, paralelos, repletos de analepses e metáforas! sim senhor!"... E eu que folheava desalmadamente a TVguia, na vã esperança de encontrar o seguimento do namoro Portas-Santana Lopes ou vislumbrar finalmente o dia do beijo final da Rosa com o Cravo.... Bem me enganaram....
Afinal era mesmo verdade....
E eu, pobre cidadã, que vivia atormentada com a indecisão entre a cruzinha no quadrado Baía das Mulheres ou Mistura Fina.....
Bem, agora, pelos menos, é mais fácil escolher....não é?
E eu que pensava "pá, estes gajos têm mesmo piada! Estamos com um humor lindo neste país.....quem escreverá estes textos?".... E eu que repetia "caramba, estas histórias viciam...enredos complexos, paralelos, repletos de analepses e metáforas! sim senhor!"... E eu que folheava desalmadamente a TVguia, na vã esperança de encontrar o seguimento do namoro Portas-Santana Lopes ou vislumbrar finalmente o dia do beijo final da Rosa com o Cravo.... Bem me enganaram....
Afinal era mesmo verdade....
E eu, pobre cidadã, que vivia atormentada com a indecisão entre a cruzinha no quadrado Baía das Mulheres ou Mistura Fina.....
Bem, agora, pelos menos, é mais fácil escolher....não é?
quinta-feira, fevereiro 10, 2005
Momento de sapateado [...]
Abre os braços.
Entrega-te à certeza de um sorriso.
Os sorrisos também são certezas [esses sorrisos]
retratos a preto e branco de qualquer coisa doce que nasce num fundo que pensamos não ter
Entrega-te à certeza de um sorriso.
Os sorrisos também são certezas [esses sorrisos]
retratos a preto e branco de qualquer coisa doce que nasce num fundo que pensamos não ter
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
Operação Carnaval 2005
Amigos tediocratas, venho por este meio avisar que tem hoje início, oficialmente (ahahahah!), a Operação Carnaval 2005 nas estradas portuguesas (ou, pelo menos, nessas gincanas alcatroadas aqui e ali).
Isto, para o tediocrata mais distraído, quer dizer que, a partir de hoje e até à próxima quarta-feira, o concurso de máscaras/disfarces da G.N.R - B.T está em vigor. Este ano, o.... aquele.... o.... o governo! decidiu dar tema livre para as vestimentas, no sentido de apelar à variedade e imaginação. Em declarações feitas hoje de manhã, o responsável pela Operação Carnaval relembrou as estatísticas da O.C do ano passado : "No ano passado, sendo o tema Pares da história, estávamos à espera de uma grande variedade de disfarces. Mas quase 80% dos agentes optaram por se mascarar de Sancho Pança. O que nos surpreendeu, pois não houve qualquer registo de agentes disfarçados de D. Quixote." Em relação aos restantes 20%, o responsável diz, satisfeito, "houve disfarces muito criativos! O prémio foi para dois agentes que estavam estacionados perto da área de serviço de Pombal, na A1. Os colegas optaram por uma recriação do mítico par polícia bom-polícia mau, interagiram com os automobilistas e tudo!". O responsável deixou ainda um apelo "Ainda que o prémio só possa ser atribuído a agentes da G.N.R -B.T, todo o cidadão pode participar. Aliás, sem a participação dos automobilistas, esta iniciativa não seria possível, já que este ano introduzimos a votação por SMS." Assim, amigos tediocratas, já podem votar no disfarce que mais vos agradar. Relembro que o tema é livre, que as fardas de agentes não contam e que também não vale votar nos palhaços que vos ultrapassam a 220 km/h. Participem todos nesta iniciativa de cor e fantasia! Mesmo que não possam entrar na competição, mascarem-se na mesma! Libertem o coelhinho branco, o cowboy, o Zorro e a freira que há dentro de vós! Metam-se no carrinho, com amigos ou família e observem, observem! Eles andam aí! E isto, este ano promete! |
quarta-feira, fevereiro 02, 2005
Felizmente há a porra do luar
Há dias que, antes mesmo de terem começado, já estão a correr mal.
A coisa começou com sintomas gripais. O prato de comida mal foi tocado, pois o corpo só pedia "cama! cama!". Todas as células do meu corpo gritavam debilmente "deita-nos! deita-nos!". Eu fiz a vontade, que eu sempre que posso, gosto de fazer as vontades ao meu organismo. Mas antes, num último esforço, arrastei-me até à caixa de ácido acetisalicílico. E depois, a porcaria resultou tanto, que perdi o sono. A única coisa que me restou foi uma dança bélica dentro dos meus pulmões. Quando finalmente consegui adormecer, já os sintomas gripais tinham voltado. "Estes gajos estão-me a gozar....", pensava eu. Violentamente acordada ao longo de toda a noite pelos grunhidos dos brônquios, só aliviei o meu triste fado, com quatro ou cinco palitos de chocolate, enfiados ao acaso sonolento na boca pastosa (sim, eu já tenho idade para ter a liberdade de ingerir porcarias na cama, sem lavar os dentes a seguir).
Acordei com: um aspirador, um dedo insistente na campaínha e um telefone rabugento. Aí desisti. Levantei-me, meti os apontamentos, a música, os cigarros, o dinheiro, os lenços de papel, os apegics, os ben-u-rons, as pastilhas de vitamina C, os Kompensans e umas canetas (tudo o que uma mulher precisa para ser feliz, portanto) dentro da mala do costume e exilei-me de casa. Fui a conjugar a minha estupidez até ao metro. Assoei-me 65 vezes e cheguei ao sítio de sempre, sentei-me ao lado dos companheiros de sempre (para não dizer só da companheira de sempre, que isto até pode soar pó lado que não deve, não que eu seja dessas que só quer mulheres à antiga que só gostem de homens mas....o quê? eu estou a dizer isto?!....) e tomei o mesmo de sempre. Saiu tudo de dentro da mala, menos os apontamentos...
Infelizmente, a companheira de sempre (pronto, vá....) também deve ter tido uma noite bélica com violentos ataques de tosse e também viera a conjugar a estupidez pela linha verde do metropolitano de lisboa fora (não, ela veio a declinar, assim é que foi!). Infelizmente percebi que estávamos as duas naquela altura do mês (a dos exames filhos da mãe) e que qualquer tentativa de normalidade era escusada. Assoei-me mais 65 vezes e os apontamentos continuaram na mala.
Entretanto, nestes dias, parece que tenho mel. Mas um mel estranho que só atrai bicheza idiota. E quando dou por mim, tenho uma criatura, entre o gótico e o lolita, sentada ao meu lado a fazer cábulas no dicíonário como se não houvesse amanhã, repetindo sempre (porque eu, no fundo, queria mesmo era ouvir...) "ah! eu não sei os adjectivos de segunda classe! eu não sei os adjectivos de segunda classe!". Nessa altura, usei a minha imaginação sádica. E segundos a seguir, já estava a lolita esmagada contra a parede do bar, presa com fita cola, e eu a fazer-lhe um penteado New Wave com uma tesoura, entre gargalhadas esquizofrénicas e canções da Britney Spears. Mas o rasgo delicioso foi interrompido pelo palhaço-chupeta (que já fez mais um furo na boca). O palhaço, não sei porquê, tem, ultimamente, insistido em sentar-se na minha mesa, nas minhas conversas, na minha música e, sobretudo, na minha paciência. E lá se sentou, desta vez sem dores, sem epistemologia, sem livro de filosofia (ver www.dxquesim.blogspot.com -És cool?), mas com sono, com vontade de fazer parte do filme (mas mantendo sempre a postura do que está a ver para além da coisa) e com o olhar enigmático de quem me está a dizer "é disto que tu falas??".
Voltei a assoar-me. Olho para o lado (sim, hoje esteve tudo ao meu lado, tudo....), vejo uma capa da Playmobil com desenhos arqueológicos lá dentro.... (este pessoal de arqueologia é um bocado esquisito nas suas camuflagens), vejo um gajo/gaja a desfilar pelo bar fora com um cachecol amarelo....amarelo....amarelo!, ouço um "yogista" a defender que "o pessoal que tira macacos do nariz é muito mais saudável", dou por mim a começar a trautear a Internacional e a tentar extrair música do maço de tabaco, da carteira, do pacote de lenços de papel... E quando pensava que o dia não podia ser pior, aparece-me O Duende, cheio de guizinhos e fraldas e folhos e furos e etc etc, com um teste na mão a gritar de mesa em mesa "Tive dois algarismos! Tive dois algarismos!!" (tinha tido 11...)
Voltei a assoar-me, tomei um aspegic e, antes de ir destilar o meu desespero para o anfiteatro Zeca Afonso, lancei um olhar de pânico à companheira de sempre e disse, baixinho "Musca, leva-me pós copos!!". Ela declinou a minha súplica e riu sapientemente.
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